sexta-feira, 29 de junho de 2012

De prata e de luz.



São sais, espalhando-se pelo quadro, formando o que vemos. São tais.
O que somos, além de um rascunho mal pensado do que gostaríamos de ser?
Vindos do pó, em carne fraca que morre de segundo em segundo. Somos a morte personificada, como razão da existência em si. Atores não ensaiados, sem as falas da própria vida. 
Um grande teatro, aonde sete bilhões dançam até o fim. Tantos nascem e tantos dizem adeus. Ainda assim são poucos. 
É claro que existe vida fora daqui.
 Por que ser tão prepotente ao  pensar que tanta dor propagada pelos nossos "heróis", ficaria somente aqui, entre nós? Tudo já teria tido um fim. Fim que nascemos para criar. Somos aqueles que tecem a destruição e desordem de nossas casas.
Levantamos nossas espadas para nossos pais e abaixamos nossas cabeças para falsas autoridades. 
Geração sem causa. 
Mesmo vendo tudo de fora, nós que viemos antes e descendemos de outra raiz, choramos sangue pela situação destes que nunca ouviram a voz daquele que trouxe a única verdade necessária para se viver, não somente aqui, mas em todo o universo. A lei do amor, acima de todas. 
Todos estão tão centrados em suas rotinas, tão imersos, tão distantes de si mesmos e tão próximos da estagnação total, que fecham os olhos para as simplicidades e perdem a vontade de viver, quando deixam de praticar a única ação que nos faz existir para sempre. Tornam-se verbos inúteis. 
Caindo em nosso conceito, reprovando nossas decisões. 
Há sempre uma história a ser contada e papel e caneta para escrevê-la. Então, se não acertarmos o passo e falharmos em nossa parte na construção das lembranças eternas, deixemos escritos nossos erros, para que as próximas gerações, ou civilizações, saibam o que fizemos e façam a diferença que não fomos capazes de fazer. Que aprendam com nossos erros e isso os faça acertar. Quem quer que sejam eles. 
Pois nós, de prata e de luz, desastramos nosso próprio fim. 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Gehenna



            Minha alma tem vivido perdida pela ausência. Ausência de respostas e de olhares. Isso é uma escuridão. Aquele anseio de estar ao teu lado sempre é aquilo que tem me consumido. Mas porque eu senti isso?
            Antes Hades que Gehenna. O meu temor foi concretizado. Um inferno em minha alma foi trazido. Meu tormento a cada madrugada. Seres que me impedem de dormir somente para me dizerem que estou só.
            Não está adiantando nada gritar. Aqueles a quem amei e que tanto eu quis bem, estes estão assistindo a corrosão da minha alma, o obscuro na minha vida. É difícil acreditar o quanto eu fui mole em entregar a minha vida por eles.
            As dores no meu corpo e o desamparo não são tão fortes quanto o vazio que minha alma sente. O peso da culpa que não é minha recai sobre mim. O ódio e o furor do mundo mal ferem o meu coração.
            Porque eu fui amar? Fui de um lugar intermediário para um lugar de tortura. Minhas forças se esvaíram juntamente com meu sangue. Minhas mãos foram transpassadas e meu peito perfurado.
            Eu literalmente me gastei por esse amor que me pareceu impossível. E não me arrependo. O sangue nas mãos dos que me ferem e a obscuridade do meu ser estão me fazendo ser feliz, feliz só por que quem eu amo não está em Gehenna. Estou só.
            Antes só aqui do que com ela ao meu lado aqui. Gehenna é tortura. Gehenna é dor. E ela não está aqui. Não sou egoísta. Deixe-me morrer, enquanto ela vive. Deixe-me sofrer enquanto ela está lá. Pode até estar chorando em Hades, mas deixe-me em Gehenna.
            Mas mesmo sufocado pela dor, eu clamo. Mesmo apenas sussurrando eu grito. Liberte meu coração! Deixe-me te ver ao pé desse inferno. Esteja sorrindo. Esteja em paz. E deixe que eu morra na escuridão, para que assim eu possa viver a luz, onde Gehenna não passou de um pesadelo que nunca mais terei. Teu sorriso é minha luz.
            Mesmo não sendo correspondido, valeu à pena estar em Gehenna, e não deixar o meu amor sofrer aquilo que estou sofrendo hoje. Porque essa dor é minha.


Ozni Coelho

domingo, 10 de junho de 2012

Um domingo qualquer...


Um minuto muda uma vida.
Passei os últimos sete anos escrevendo todos os dias e ainda assim sinto que nunca consigo passar o que realmente quero dizer.
É provável que essa frustração seja o motivo pelo qual não parei.
Pelos amores que não floresceram e pelos corações que nunca estiveram no tom.
Foi uma incessante busca pelos sentimentos alheios.
Entendê-los e fazer com que também entendam o mundo, como eu o vejo.
Vivem dizendo por aí que a vida só começou.
Eu a vejo como uma pequena dose do fim, que nos é dada dia após dia.
Sinto minha inutilidade ao perder a única que sempre viu o mundo pelos meus olhos.
Reparando na existência de uma flor solitária, repousando em uma árvore já velha e cansada.
Única ali e também única em mim.
A visão poética é extremamente rara em dias como os nossos.
Pena que a poesia tenha se tornado vaga e oca. Como eu, antes de te conhecer.
Assim como minhas músicas perderam o efeito. Envelheceu comigo.
Sempre haverá uma história para contar.
Uma história que tem o poder para ser como tiver vontade, pois é imaginada.
Nós podemos tecê-la conforme nossa vontade.
De olhos bem fechados, no tímido instante de um arrepio.
Isso é sobre café, olhares e sorrisos.
Suavemente distribuídos de segunda a sexta.
Iniciados em um domingo qualquer...
reticenciados até quando quiser.    

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Estou evoluindo



Nem me perguntem o porquê de eu ser assim.
Nem me perguntem o porquê de tudo estar sendo dessa forma.
Nem me perguntem onde estou ou o que faço.
Nem me perguntem o motivo das coisas que estão me acontecendo.
Nem me perguntem quais são meus medos.
Nem me perguntem o nome das pessoas que eu confio.
Nem me perguntem o que gosto de ouvir.
Nem me perguntem o que não gosto de ouvir.
Nem me perguntem o que eu penso da vida.
Nem me perguntem o motivo da minha revolta.

Enfim, eu faria de tudo para me ver livre de perguntas. Livre de questionamentos. Livre de tudo isso.
Quer saber o porquê? NÃO, não queira saber, não me faça outra pergunta! Socorro! Isso está me sufocando! Eu não sei o que fazer!

Eu poderia imaginar minhas origens. Estou me tornando outro ser. Outra criatura. Eu realmente alcancei a máquina das transições. Estou me tornando um novo ser humano. Estou alcançado um estágio doloroso.

Eu queria saber me contentar com o que tenho, mas não consigo. Penso alto. Alto demais. Sonho muito, isso é bom, mas me iludo com eles, isso é ruim.

Nem me perguntem como eu vim parar aqui, mas esses sonhos me matam aos poucos.
Estou me deteriorando! Sinto falta da minha infância, onde tudo era utopia! Sinto falta da minha ignorância e da minha inocência.

Se a vida é crescer e evoluir, e evoluir é sofrer, essa dor me faz querer regredir! Mas tudo é fruto do resto de minha ignorância. Daquela criança que habita em mim sem querer desaparecer por completo. Daquela inocência que insiste em permanecer em mim, mas que não quer tomar conta de mim.

Nem me perguntem se eu estou amando alguém, porque isso é relativo. Hoje o amor não me faz mais tanto sentido como me fazia antigamente. E detalhe, quanto mais eu o provo, mais ele me parece obscuro e desconhecido. E assim percebo que sou eu quem o deixa mais incógnito.

Nem me perguntem o que faço quando no ápice da minha dor me escondo em um quarto escuro.
Nem me perguntem o que eu estou pensando agora.
Nem me perguntem se estou bem.

Me liberta! Por favor! Socorro! É um medo fora do comum que me dopa, mas esse medo não é de nada, está em mim. Somente em mim. Você não precisa saber dele, não é da tua conta, mas ele está aqui.

Ela tem vida, e vive a falar comigo. Bendita dor. Surge em mim, trazendo-me novidade de vida e de sentimentos. Sou um novo moço, mais jovem, à medida que envelheço.

Consegui me magoar. Consegui sofrer. Não pode fazer parte de mim. Eu não estou aprendendo isso assim tão cedo. Sou novo ainda. Não posso sentir isso. Nem meus mentores passaram por isso na idade que eles estão, porque eu estou assim?

Me arrume um esconderijo! Rápido! Um lugar onde eu possa esconder minha cabeça e ocultar as lágrimas que insistem em cair. Mesmo quando fecho os olhos elas saem, porque minhas pálpebras se inundam desse rio salgado e amargo ao mesmo tempo. Amargo como esse latejar no fundo do meu peito.

LIBERTA-ME!
Pedido inútil este, afinal de contas, eu sei que estou me evoluindo.
Mas eu não pedi por isso.



Ozni Coelho