Estranhei primeiro por ter dormido.
Acordei lavado em suor, como se tivesse
chovido sobre mim. O som de uma respiração fraca, somado a todos os outros
sons de uma noite ordinária.
O vento no corredor e o estalo dos
pequenos arbustos que batem nas portas das janelas, chamando pelas flores de
dentro dos quartos do seminário vizinho. Como se quisessem brincar, não sabem
que é tarde.
Será uma noite longa e agitada. Não há
posição confortável.
Não para meu corpo e menos para meus
pensamentos, que dispersos no escuro, voam e respiram esse ar que falta
em meus pulmões.
Falta de educação de minha parte, não me
apresentei.
Nem vou. Nunca me preocupei com a educação
como a vemos por aí, falsa e premeditada.
Passei a escrever, às quatro da manhã de uma
quinta qualquer, pois tenho de lhes contar uma história.Afinal, é provável que
esta seja minha última chance.
Vou contá-la como foi e também como eu
gostaria que tivesse sido. Afinal, assim é e será com todos que já viveram
por aqui.
Sonhamos muito e realizamos pouco. Pouco para
se dizer por aí.Por isso nos permitimos imaginar tanto.
Esta história é meu sonho e estando perto de
partir, deixarei-a com vocês. Ela é tudo o que me resta para deixar.
O consolo vem de saber que tentamos e a
admissão do fracasso surge da análise de quem fomos.
Agora tenho de me preparar para isso.Encontro
com vocês no capítulo primeiro.
Até logo.