quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Reflexões de um velho

Quando vou e quando volto, quando leio o que há muito escrevi, vejo que, quanto mais coisas embasadas temos a falar, menos queremos dizê-la. Quanto mais velhos somos, mais teríamos a dizer, mas menos queremos fazê-lo.  Deixe que os jovens o façam, deixe que os demais o produzam e escrevam.

Deixe-os gritar, gritar enquanto à flor de suas peles estão todas as emoções e impulsos. Deixe-os gritar, enquanto a raiva crescente de suas almas parece prestes a explodir. Deixe-os bradas, eu já fui assim, e tanto já gritei. Tanto já berrei aos quatro cantos, ao mundo.

Talvez gritar seja para os jovens, e os que envelhecem, seja por dentro, seja por fora, que a raiva engessada, os membros enrijecidos da emoção lhes causem travamentos emocionais, e pequenos lapsos racionais de calcular premeditadamente cada falar, cada pensar, cada sentir.

Não vou mentir, deixar que os mais jovens gritem o que sentem, o que querem e o que pensam, enquanto em mim dói tentar fazê-lo, quando o medo de perder, o receio a se manter é muito maior que o desejo inexperiente de ganhar, obter e explorar. As pequenas coisas de repente fazem mais sentido e tornam-se mais valiosas, e no fim das contas, por temer perdê-las, deixamos que eles gritem.

Um dia eles estarão em meu lugar, sem gritar, preferir não perder a ganhar mais. Eu sei que eles virão, e saberão o que eles querem, afinal de contas, todos nós queremos ser livres.