Nem me perguntem o porquê
de eu ser assim.
Nem me perguntem o porquê
de tudo estar sendo dessa forma.
Nem me perguntem onde
estou ou o que faço.
Nem me perguntem o motivo
das coisas que estão me acontecendo.
Nem me perguntem quais
são meus medos.
Nem me perguntem o nome
das pessoas que eu confio.
Nem me perguntem o que
gosto de ouvir.
Nem me perguntem o que
não gosto de ouvir.
Nem me perguntem o que eu
penso da vida.
Nem me perguntem o motivo
da minha revolta.
Enfim, eu faria de tudo
para me ver livre de perguntas. Livre de questionamentos. Livre de tudo isso.
Quer saber o porquê? NÃO,
não queira saber, não me faça outra pergunta! Socorro! Isso está me sufocando!
Eu não sei o que fazer!
Eu poderia imaginar
minhas origens. Estou me tornando outro ser. Outra criatura. Eu realmente
alcancei a máquina das transições. Estou me tornando um novo ser humano. Estou
alcançado um estágio doloroso.
Eu queria saber me
contentar com o que tenho, mas não consigo. Penso alto. Alto demais. Sonho
muito, isso é bom, mas me iludo com eles, isso é ruim.
Nem me perguntem como eu
vim parar aqui, mas esses sonhos me matam aos poucos.
Estou me deteriorando!
Sinto falta da minha infância, onde tudo era utopia! Sinto falta da minha
ignorância e da minha inocência.
Se a vida é crescer e
evoluir, e evoluir é sofrer, essa dor me faz querer regredir! Mas tudo é fruto
do resto de minha ignorância. Daquela criança que habita em mim sem querer
desaparecer por completo. Daquela inocência que insiste em permanecer em mim,
mas que não quer tomar conta de mim.
Nem me perguntem se eu
estou amando alguém, porque isso é relativo. Hoje o amor não me faz mais tanto
sentido como me fazia antigamente. E detalhe, quanto mais eu o provo, mais ele
me parece obscuro e desconhecido. E assim percebo que sou eu quem o deixa mais
incógnito.
Nem me perguntem o que
faço quando no ápice da minha dor me escondo em um quarto escuro.
Nem me perguntem o que eu
estou pensando agora.
Nem me perguntem se estou
bem.
Me liberta! Por favor!
Socorro! É um medo fora do comum que me dopa, mas esse medo não é de nada, está
em mim. Somente em mim. Você não precisa saber dele, não é da tua conta, mas
ele está aqui.
Ela tem vida, e vive a
falar comigo. Bendita dor. Surge em mim, trazendo-me novidade de vida e de
sentimentos. Sou um novo moço, mais jovem, à medida que envelheço.
Consegui me magoar.
Consegui sofrer. Não pode fazer parte de mim. Eu não estou aprendendo isso
assim tão cedo. Sou novo ainda. Não posso sentir isso. Nem meus mentores
passaram por isso na idade que eles estão, porque eu estou assim?
Me arrume um esconderijo!
Rápido! Um lugar onde eu possa esconder minha cabeça e ocultar as lágrimas que
insistem em cair. Mesmo quando fecho os olhos elas saem, porque minhas
pálpebras se inundam desse rio salgado e amargo ao mesmo tempo. Amargo como
esse latejar no fundo do meu peito.
LIBERTA-ME!
Pedido inútil este,
afinal de contas, eu sei que
estou me evoluindo.
Mas eu não pedi por isso.
Ozni Coelho
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