quinta-feira, 23 de abril de 2020

O FIM DO MUNDO

O FIM DO MUNDO


Comentário sobre "2012" do Silva, e uma análise sobre a autodestruição


Há uma canção que eu gosto muito de um cantor sensacional. Não, esse cara não aparece constantemente nos tabloides da mídia, tampouco nas berlindas tradicionais, mas é um gênio. O ano era 2012, quando todo mundo dizia: “o mundo vai acabar”. Sim, o mundo talvez tenha acabado e o que nós hoje vemos é apenas o que restou dele, um outro mundo. E isso já disse Lavoisier, o pai da química moderna: “Nada se cria, tudo se transforma”. Não, o mundo não acabou, mas tem se transformado, infelizmente ou não, ele ainda é o mesmo, só não mais do mesmo jeito.

Ainda tenho tendências a ser prolixo, e talvez por ser prolixo eu demoro muito para ir direto ao ponto, quero falar do Silva, um músico sensacional que eu tive o prazer de conhecer em uma conversa com um amigo. De fato, boas músicas são indicadas com boas conversas, e numa dessas conversas  no ano de 2017 pude ouvir a música “2012” – cerca de cinco anos depois do ano em que o mundo acabou.

Ouvi uma vez e fiz o que faço com músicas que me intrigam: a repeti por muitas e muitas vezes. Cheguei a decorar a letra ainda no primeiro dia em que a ouvi. Achei fantástica a jogada de palavras, os efeitos, os sons, o ritmo, as melodias, a voz. Mas a letra mexeu comigo, mexeu de forma que eu nunca imaginei.

Com o link abaixo, creio que vocês poderão ouvi-la e tirar por si só as suas conclusões sobre ela. Me dei conta que o mundo continua acabando, mesmo quando não parece. Essa autodestruição pode ser compreendida de diversas formas, isso dependendo de quem e como a enxerga. Eu vejo como viu Lavoisier, há uma transformação intensa e constante, não perdendo sua essência, tampouco sua capacidade autodestrutiva.

Aí, respeitando as diferenças de opinião, ouço pessoas falando que o homem é o principal causador do “fim do mundo”. O homem hoje é visto como o maior problema do universo. Dizem eles que nós recebemos um planeta belo e perfeito, mas a nossa insensatez e arrogância pressionaram o botão de autodestruição e cá estamos nós, morrendo como nunca.

Não penso assim da raça humana. Por mais que eu reconheça que nós causamos todo esse caos no planeta, matamos, ferimos, adoecemos o planeta, penso que se não fosse o homem, com toda a certeza outro animal o faria. Era a nossa vez de acabar com tudo e deixar um universo precário para as próximas gerações que virão em seguida.

Sobre isso, venho com a frase do For Today que eu gosto bastante: “Em um mundo voltado para a autodestruição a resposta está aqui. Será que estamos tão cegos para vê-la?”. Talvez estejamos cegos, ou mesmo não queremos entender o que está acontecendo. Dizem que o pior cego é o que não quer ver, não é?

Porém, “eu não estou interessado em nenhuma teoria” (saudoso Belchior e sua Alucinação), quero apenas me assentar e ver. Observar o vento, olhar as nuvens, contrariando o sábio Salomão que disse quem faz isso não planta e nem colhe. O grande problema é que ninguém está em condições de plantar, nem de colher nada, pois estamos em quarentena. Então, apenas faça como eu, como fez o Silva, vá para a sacada e assista o fim do mundo. Por mais caótico que seja, ele tem lá a sua beleza.


Ozni Coelho Simões



2012 – Silva (2012)

O fim do mundo vi dessa sacada
Mas hora alguma quis pular, quis pular
Quem se apressou perdeu toda essa luz crepuscular

Não quero certo, gosto mesmo do incerto
Pode ser belo o feio visto de perto
O avesso às vezes dá certo

Veja só o lusco-fusco e eu reparo
É o fim do mundo e o que sei
É que eu não sinto mais medo

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