sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Não quero dançar



Desculpe, mas se já era difícil ver o que me cerca desabar, imagine agora que o que desabou estava aqui dentro de mim. O último vestígio do eu que surgiu das sombras da inexistência fora empacotado e devolvido às trevas de onde viera. O que resta é uma inércia mental, um desejo doentio de preencher no copo o vazio, uma vontade de vingança aguda que incendeia qualquer coração esburacado, traído pela vontade de ser feliz.

Desculpe, mas quis a Providência me abandonar quando eu mais queria sua companhia. E tudo o que faço é sorrir e ser muito pior que as piores e macabras expectativas do mundo cruel ao meu respeito.

É nessas horas que amaldiçoamos datas, sonhos, lampejos, ações. Tudo torna-se vaidade, torna-se inútil, bem como seus sorrisos, suas solenidades, suas festas. Nessas horas percebemos que o agora não faz de mim alguém pronto para o amanhã.

Não quero dançar, não quero cantar e nem tocar o que venho tocando, cantando e dançando desde antes. O que quero é fazer a minha canção, cantar e dançar a minha dor, porque somente ela está comigo todos os dias. E assim será até a consumação dos séculos...

Ozni Coelho Simões

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