sábado, 1 de dezembro de 2012

II




Por volta das 6 horas da manhã, voltamos estarrecidos ao departamento de polícia. A família foi contatada para os trâmites do pós-morte. A única coisa que pudemos fazer foi prometer usar de todas as nossas táticas nas investigações. Estavam revoltados. O tenente, entre gritos, maldizia sua estrela. Segui até minha sala.

Lá, encontrei outra surpresa. Em cima da mesa havia um CD. Na capa estava escrito, em letras garrafais: "EU SOU". Estranhei. Fui até o corredor e perguntei à assistente se alguém havia me procurado enquanto estive fora. Nada. O coração, prevendo o que viria, esfriou ao zero absoluto. Percebendo minha palidez, ela perguntou se havia algo errado. Eu não disse, mas senti. Aquele demônio havia estado ali. Como passou por nossos seguranças sem ser notado?
Pedi que reunisse todos, urgentemente, na sala de reuniões.

Dez minutos depois, estávamos todos lá e, de uma estranha maneira, sabíamos que tipo de horror nos esperava. Coloquei o CD no aparelho, sentei-me e apertei o 'play'.
Durante o primeiro minuto, não havia nada além da escuridão e um arfar(?), que deixou a todos em expectativa. O sargento remexia-se inquietantemente em sua cadeira. Imaginei o que cada um pensava naquele primeiro contato com Aquele ser.
De repente, ouvimos algo. Uma voz. Uma voz que soava como se há muito estivesse calada. Uma voz que foi guardada para aquele momento. Grave, sepulcral, capaz de congelar o sangue corrente em nossas veias.

Disse: "Haja luz". E houve luz. Uma luz que irradiou por trás e o iluminou, ficando ali quieta, resplandecendo sobre aquele ser, como se também tivesse medo. A reação foi automática e unânime. Fecharam os olhos. Eu o 'encarei'. Tremi. Somente os olhos eram vistos, por baixo de um manto vinho que cobria todo o seu "corpo". "Corpo" esse de dimensões descomunais. Ou melhor, não humanas. 
Aquilo sabia com o que lidava. Eram próteses que impossibilitavam os investigadores de calcular suas medidas reais. Os olhos, porém, escolheu deixar à mostra. Fazia parte de seu jogo infernal. Azuis, claríssimos. Mas essa, obviamente, não era a razão do pavor.  As pupilas eram vermelhas. Intensamente vermelhas. Depois soubemos que se tratava de um albinismo ocular, o que, no momento, não impediu que a imaginação de todos da equipe fluísse pelos caminhos menos lógicos.

Guardei aqueles olhos. Ao vê-los, soube que ele mataria novamente. Muito sangue havia de ser derramado.
O silêncio reinou na tela por mais um minuto e meio. Depois, falou(?)mais uma vez. A boca, por trás do manto, não parecia mover-se. Era um profissional. 
"Que eu morra a morte dos justos e seja o meu fim como o deles, pois a minha ira cairá sobre eles. Os homens clamarão pela morte e eu a darei a eles como prova de meu poder".
Concluiu, deixando apenas os gemidos de pavor no departamento. Aos três minutos de vídeo, surgiu uma mensagem na tela:
'SEGUIR 3 33. '
Pensei em sua última mensagem. "PAREM-ME". Aquilo era assustadoramente amigável. Tinha um objetivo. Queria ser encontrado.
A partir desse momento, ficou conhecido como 'EU SOU'.
Trabalhamos com a alma. Porém, os fatos seguintes não foram menos trágicos do que os primeiros.
Seguir 3 33 era a segunda peça.

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